Fornecimento sem fundo? Preocupações com a limitada energia hidrelétrica canadense, enquanto os EUA buscam descarbonizar a rede

HARTFORD, Connecticut - Os formuladores de políticas que buscam tornar a rede elétrica dos EUA menos dependente de combustíveis fósseis há muito tempo olham para o norte, para o Canadá e seu abundante excedente de energia hidrelétrica, defendendo novas linhas de transmissão para trazer mais dessa eletricidade limpa e barata para o sul.

Mas com a demanda por energia verde crescendo também ao norte da fronteira, há novas preocupações de que o suprimento hidrelétrico do Canadá não seja tão sem fundo quanto parecia antes.

Um estudo publicado em maio pelo Montreal Economic Institute previu que Quebec, agora lar de um dos maiores sistemas hidrelétricos do mundo, ficará aquém da capacidade de geração necessária para atender à crescente demanda por energia na província na próxima década.

Alguns legisladores da Nova Inglaterra estão questionando a sabedoria dos planos para construir novas linhas de transmissão em seus estados, apesar da insistência da gigante de energia canadense Hydro-Québec de que ainda pode cumprir suas obrigações de energia.

"Eles têm suas próprias necessidades de energia", disse a senadora estadual do Maine, Nicole Grohoski, sobre os canadenses. O democrata disse que é "excessivamente otimista" que os formuladores de políticas confiem na energia hidrelétrica canadense. "Existem usuários industriais lá em cima que já estão tendo problemas e não estão interessados ​​em investir em Quebec porque estão preocupados com o fornecimento de energia."

Ao longo de décadas, a Hydro-Québec, que pertence à província de Quebec, construiu uma série de instalações hidrelétricas, a maioria no norte da província. A construção das barragens e a subseqüente inundação das áreas atrás delas atraiu protestos de grupos indígenas e ambientalistas de ambos os lados da fronteira.

Mas, no processo, a Hydro-Québec se tornou a maior produtora de energia renovável da América do Norte. Ela produz quase metade de toda a energia hidrelétrica canadense, bem como um número menor de projetos eólicos e outros projetos renováveis.

A capacidade de gerar eletricidade deixou a concessionária com energia extra para vender nos EUA, famintos por energia. Já existem várias linhas de transmissão que transportam energia do Canadá para os Estados Unidos e muito mais na prancheta.

Uma linha desde a fronteira do Lago Champlain e do Rio Hudson até a cidade de Nova York está em construção. As autoridades do Maine acabaram de aprovar a retomada da construção de uma linha separada da fronteira para Massachusetts.

Também há propostas pendentes de linhas para chegar ao sul da Nova Inglaterra através de Vermont e New Hampshire.

O governador de Connecticut, Ned Lamont, um democrata, tem reunido seus colegas governadores da Nova Inglaterra para buscar financiamento federal para projetos de linhas de transmissão. O impulso ocorre quando bilhões de dólares estão disponíveis para projetos de linhas de transmissão elétrica sob a lei de infraestrutura do presidente Joe Biden.

"Temos que acelerar as coisas quando se trata de confiabilidade, reservas e mais energia livre de carbono", disse Lamont.

Mas Quebec está em sua própria busca para reduzir o uso de combustíveis que aquecem o planeta. A província espera atingir a neutralidade de carbono até 2050, enquanto a demanda por energia hidrelétrica deverá crescer 14% na próxima década.

"Nenhuma província agora está em posição de ver grandes excedentes de eletricidade que estariam disponíveis para exportação", disse Pierre-Oliver Pineau, especialista em política energética canadense e professor da HEC Montréal, a escola de negócios da Universidade de Montreal.

Um grupo bipartidário de legisladores do Maine que se opõe à proposta de linha de transmissão New England Clean Energy Connect de 233 quilômetros pediu recentemente ao governador de Massachusetts que revise se a Hydro-Québec ainda pode cumprir suas obrigações de energia.

Eles também enviaram uma carta ao primeiro-ministro de Quebec, François Legault, questionando se haverá eletricidade suficiente para abastecer tanto aquela linha quanto a linha Champlain-Hudson Power Express, que está atualmente em construção. Essa linha destina-se a fornecer à cidade de Nova York 20% de suas necessidades de energia.

Os legisladores do Maine disseram temer que novas represas precisem ser construídas, um processo que pode levar anos.

"Muitas pessoas na Nova Inglaterra viveram com o mito de que Quebec tem tanto poder que não sabe o que fazer com tudo isso", disseram os legisladores em um comunicado conjunto.